Modelo com vitiligo transforma trajetória de preconceito em símbolo de autoestima e representatividade
A história de superação de uma jovem brasileira ganhou repercussão nacional por simbolizar mudanças profundas na forma como a beleza é percebida, celebrada e representada. Aos 18 anos, Marina Duarte, diagnosticada com vitiligo ainda na infância, tornou-se referência de autoestima ao transformar as marcas deixadas pela despigmentação da pele em motivo de orgulho. Sua trajetória, marcada por desafios emocionais e reencontros pessoais, inspira milhares de mulheres que convivem com a condição e, por muito tempo, acreditaram que precisavam se esconder.
O caminho para a aceitação não foi imediato. Durante a infância, as primeiras manchas surgiram ainda de forma discreta, mas cresceram com o tempo. Na adolescência, período tradicionalmente sensível para a formação da identidade, as áreas afetadas se tornaram mais evidentes, afetando diretamente sua percepção de beleza e valor. A dificuldade de lidar com olhares, comentários e julgamento social fez com que Marina adotasse hábitos de esconder-se, recorrendo a roupas específicas e maquiagem pesada para disfarçar a pele.
Esse movimento de ocultação, comum entre pessoas com vitiligo, revela um sintoma importante da pressão estética: a ideia de que apenas um padrão de aparência é aceitável. A jovem convivia com constrangimento constante e uma sensação persistente de inadequação. No entanto, uma experiência inesperada redefiniu completamente seu caminho. Em 2019, um convite para visitar uma agência de modelos inaugurou uma nova leitura sobre sua imagem — uma leitura possível, positiva e libertadora.
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O encontro que mudou a percepção sobre a própria beleza
Marina relembra que chegou à agência ainda com receio, acreditando que as manchas seriam vistas como um obstáculo. O que encontrou, porém, foi uma avaliação totalmente contrária às suas expectativas. Um agente profissional conversou com ela de forma franca e acolhedora, explicando que o vitiligo não era um defeito a ser escondido, mas sim um traço único, artístico e poderoso, capaz de diferenciá-la no universo da moda.
Esse momento foi determinante. Pela primeira vez, a jovem ouviu que não precisava se camuflar e que sua aparência era, de fato, singular. A partir dessa experiência, começou a desconstruir anos de vergonha e a reconstruir sua relação com a própria identidade. Segundo ela, o processo de aceitação foi gradual, mas transformador. Ao compreender que poderia ocupar espaços de destaque — inclusive na passarela — as barreiras internas foram se desfazendo e dando lugar a uma nova autoconfiança.
No campo psicológico, especialistas destacam que representações positivas têm impacto direto na forma como jovens com vitiligo se percebem. Quando figuras públicas e modelos assumem suas marcas com naturalidade, criam um movimento de legitimação e acolhimento para outras pessoas que enfrentam o mesmo desafio. Marina tornou-se exatamente esse tipo de figura.
A transição da insegurança para o protagonismo
À medida que avançava em sua jornada como modelo, Marina passou a observar mudanças profundas na maneira como se apresentava ao mundo. A maquiagem antes usada para esconder tornou-se dispensável. As fotos, antes uma fonte de desconforto, passaram a registrar sua força e autenticidade. A visibilidade conquistada não apenas ampliou sua carreira, mas também a conectou com outras mulheres que buscavam referências de coragem e aceitação.
Em conversas com outras jovens, Marina relatou que começou a receber mensagens de meninas com vitiligo que se identificavam com sua história. Muitas delas diziam que, pela primeira vez, sentiram-se representadas. Esse fenômeno reflete uma transformação social mais ampla: a valorização da diversidade estética e o reconhecimento de que a beleza não é homogênea. No universo da moda, campanhas inclusivas e modelos com características reais têm ocupado cada vez mais espaço, influenciando o olhar de toda uma geração.
A jovem reforça que a mudança não foi apenas externa. O ganho de autoestima repercutiu em outras áreas de sua vida, fortalecendo relacionamentos, ampliando oportunidades e reduzindo o impacto emocional das críticas. Sua narrativa, construída com honestidade e vulnerabilidade, inspira ao mostrar que a beleza nasce do encontro entre a autopercepção e o respeito pela própria história.
O impacto da representatividade na autoaceitação
Especialistas em comportamento humano argumentam que representatividade não é um conceito simbólico, mas uma ferramenta prática de transformação. Quando pessoas marginalizadas visualizam histórias semelhantes às suas sendo valorizadas, tendem para maior autoestima e segurança. Para indivíduos com vitiligo, frequentemente submetidos a olhares de estranhamento ou padrões estéticos excludentes, ver uma modelo com vitiligo ocupar espaço na mídia gera identificação direta.
A psicologia social aponta que a construção da identidade passa por espelhos sociais: precisamos ver outros para aprender a nos ver. Marina tornou-se esse espelho. Sua imagem estampada em editoriais contribui para que jovens percebam que suas marcas são parte legítima de quem são, e não um aspecto que precisa ser escondido ou corrigido.
Além disso, sua história contribui para o debate sobre inclusão na indústria da moda. A presença de modelos com características reais desafia padrões tradicionais, abre novos caminhos de expressão e amplia o conceito de beleza aceita comercialmente.
Autoestima como movimento coletivo
Embora sua trajetória seja individual, o significado dela é coletivo. Ao assumir suas marcas, Marina cria espaço para outras mulheres experimentarem a mesma liberdade. Seu posicionamento demonstra que autoestima é uma construção permanente, que depende de estímulos positivos, acolhimento e do rompimento com padrões artificiais.
Ao falar publicamente sobre sua jornada, ela reforça que processos de aceitação não acontecem da noite para o dia. São feitos de conversas, reflexões e, muitas vezes, desafios internos profundos. Mas os resultados são libertadores: uma relação saudável com a própria imagem modifica a forma como a pessoa convive com o mundo e como o mundo passa a conviver com ela.
A moda como plataforma de inclusão
A indústria da moda tem um papel central na forma como a sociedade define beleza. Por anos, esse setor reforçou padrões rígidos, gerando exclusões e inseguranças. Nos últimos anos, entretanto, essa realidade vem passando por mudança significativa. Marcas têm adotado campanhas mais diversas, abrindo espaço para corpos, tons de pele e características únicas antes invisibilizadas.
Modelos com vitiligo ganharam espaço em editoriais internacionais, campanhas de beleza e passarelas de grandes grifes. Esse movimento, ainda em consolidação, já representa avanço importante. Marina insere-se nesse contexto, mostrando que o mercado está mais aberto para talentos que fogem do padrão tradicional.
Sua presença em ensaios fotográficos amplia narrativas e reforça que a moda, quando comprometida com inclusão, tem o poder de transformar percepções sociais. Nesse sentido, a modelo com vitiligo deixa de ser exceção e torna-se parte de uma pluralidade crescente.
A força da mídia na amplificação de novas histórias
Ao compartilhar sua trajetória em programas de comunicação e plataformas digitais, Marina ampliou o alcance de sua mensagem. O impacto de sua fala é potencializado pela visibilidade da mídia e pelo interesse crescente do público em narrativas de superação e autenticidade.
Esse tipo de exposição fortalece sua carreira e consolida sua imagem como referência de empoderamento. A mídia desempenha papel relevante ao oferecer espaço para histórias reais que inspiram mudanças sociais e emocionais.
O exemplo de Marina e o futuro da inclusão
A influência da trajetória de Marina vai além de sua carreira. Sua história pavimenta caminhos para futuras gerações de jovens com vitiligo que buscam espaço de reconhecimento e pertencimento.
Sua presença na moda legitima a beleza das características individuais e reforça o entendimento de que padrões rígidos não definem potencial, valor ou identidade. A ascensão de uma modelo com vitiligo abre portas para novas narrativas — narrativas que compreendem a diversidade como riqueza e não como obstáculo.











